sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Dentro da casa

SofáO interior de sua casa era comum, ordinário sim, independentemente do que o Menino pensasse, sem bem que ele não perdia tempo, em seus pensamentos, com o lugar onde comia, dormia e, com certa frequência, ficava de castigo e apanhava. Isso acontecia não porque seus pais fossem maus para com ele, não. O Menino era travesso sim, teimoso sempre, apesar de se achar sempre injustiçado. Ademais ficava muito tempo fora de casa, no quintal, o que lhe dava mais possibilidades para suas brincadeiras — em broncas acabavam algumas. O interior era simples como dissemos, a cozinha tinha um piso de cerâmica, disposta da mesma forma simétrica que a cerâmica fosca do lado de fora, era branca, rajada de rosa ou vermelho muito claro, acabando por dar uma impressão de ser rosa. A porta da entrada, assim como as duas outras portas da casa, eram escuras, de madeira, pintadas à óleo, azul escuro na duas que se podia abrir e fechar, pintura bem gasta, soltando-se em muitas partes, mostrando cores anteriores, um azul claro pálido, rosa ou violeta desbotado, desagradável de se ver ou um marrom escuro, não menos desagradável que a cor da terceira porta, a da sala que nunca se abria. Decrépitas. Os móveis da cozinha eram todos azuis, azul claro, os da sala simples demais, sala do piso de taco marrom escuro como, descolando em muitas partes, com muitos tacos soltos, que quanto retirados exalavam cheiro ruim de madeira velha, sem cera, abrasivos pela falta de trato — tropeçar neles com os pés metidos em chinelos de dedo era frequente e doloroso. Na sala havia cortinas grandes e amplas — bonitas sim, escondiam a porta que nunca se abria e a janela —, uma tevê, colocada numa estante velha, poltronas gastas de napa marrom, com alguns rasgos, mas sem tecido para esconder a falta de meios, mas isso não por convicção moral ou algo do tipo, mas realmente por falta cuidado ou indiferença. No quarto duas camas, uma de casal, da mãe, uma de solteiro, um cesto abarrotado de coisas, guarda-roupas creme, novamente o piso de tacos, sem rodapé, tanto na sala como no quarto.

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