quarta-feira, 15 de setembro de 2010

altercar

Não sou um tipo dado a mesuras e maneiras corteses com aqueles que me não tenho em boa conta; tampouco sou dado a afetações ou maneiras de gente bem educada quando se demonstra, não obstante a polidez com que se pode fazer isso, desafeição ou, pior, aversão a mim ou aos meus. Prefiro sempre o trato objetivo, de palavras claras, nas quais se vê a intenção sem disfarce para este ou aquele. É, também, nesses casos, meu proceder usar palavras desnudas, no limite da expressão do asco que este ou aquele tipo pode nos mostrar sem entrar de facto no enfrentamento puro e simples. Sempre prefiro a aspereza, o despudor e a dureza, tanto mais fáceis de serem alcançados quando menor é a significância daquele que se opõe. Sempre que assim se dá, tanto mais bem acabada, seca e objetiva é forma da altercação; tanto mais racionalmente orientada ela o é. Porém, quanto maior a significância daquele a quem se invectiva, tanto mais tortuosa será a oposição. Dela não se pode, quase nunca, se esperar uma forma sequer minimamente racional. Aquele que é significativo para quem quer que seja jamais está livre de ponderações irracionais, isto é, não está dissociado, nunca, de disposições ou estados mentais passionais; tais estados, seja numa disputa ou conciliação, jamais têm uma forma lógica, embora, é evidente, quanto menos aguerrido é o estado de ânimo, tanto mais se assume uma forma lógica à consecução do fim; e isto se dá, quase sempre na conciliação, pois a disputa, uma simples discussão com os entes que nos são caros e significativos, jamais têm uma forma predita; é uma torrente irracional que se acumula e se represa. De qualquer lado um dia o teu dique há de rebentar.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

medo

Diz o pai dos burros que medo é um termo o qual significa, entre outras coisas, uma ansiedade irracional ou fundamentada; diz ele também que é um estado afetivo originado da consciência do perigo ou mesmo, contrariamente, oriundo desse estado da consciência. Se vê que ele pode ser, sim, fundamentado, mas quando é causado pela consciência, parece sempre ser um estado irracional ou no limar de sê-lo. Tal estado, indiferente às maneiras que se corporificam na consciência, pode surgir de modos inteiramente diversos, embora sua permanência na consciência, ao menos na aparência se dê pelas vias mencionadas.