quinta-feira, 24 de março de 2011

A pequena Klara, criança loiro-escura de olhos bastante austeros, estava sentada na mesinha de costura, junto à janela, com um bordado nas mãos. Klothilde, entregue ao mesmo trabalho, encontrava-se no sofá, ao lado da consulesa. Não era muito mais velha do que sua prima casada, tinha apenas vinte e um anos. Mas o rosto comprido já começava a mostrar linhas acentuadas, e o cabelo liso e dividido ao meio — cabelo que nunca fora loiro, mas sempre de um cinza embaciado — contribuía muito para completar o retrato de uma solteirona. Estava satisfeita com essa evolução, nada fazendo para remediá-la. Talvez tivesse necessidade de envelhecer rapidamente para fugir logo de qualquer dúvida ou esperança. Não possuindo nenhum vintém, sabia que não haveria ninguém no mundo para casar-se com ela, e encarava humildemente seu futuro num pequeno quarto, vivendo da pequena mesada que o tio poderoso lhe conseguiria duma instituição de auxílios a moças pobres e de boa família.
Thomas Mann, Os Buddenbrook. Trad. Herbert Caro, Círculo do Livro, São Paulo, 1981, p. 160.

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