terça-feira, 25 de setembro de 2007

sorver

tão sem jeito
esse coração teu,

pouco comedido, precipitado
afeito apenas àquela

enxerga nela a margarida
fosse naquela flor, dantes amarela, vibrante

nas tuas madeixas, no teu olhar de menina
no refletir insinuante, te escapo aos braços

não chegas às notas altas,
às falas articuladas, ponderadas, cristalinas

mesmo a dizer não, tu percorre-me os ouvidos
no telefone, no curto recado do telemóvel

nas tuas imagens
nas tuas composições

dizes ainda que falta muito
para que vá onde queres

fica cá, ambivalente
a percorrer-me a memória

apenas um pouco de ti
teu calor, pudores

anseios teus
similares aos que construí

aqui, sem ajuda
para mim, apenas

sem nunca consultar a ti
a quem quer seja

vens, agora
não te vá, é tarde

esperançoso que queiras
dá me convites, vou

ora finjo esquecer
teimosamente.

mas estou cá,
com esses olhos de cão

seguindo, aproximando
rosnando e mordendo

o tempo todo
cenho franzido, rude, ressentido da tua falta

grosseiro de não chegar a ti
arrogante, farta-me de tanto saber

que desejo teu afagos
e minhas mãos, quentes de ti

das mechas até envolver-te
até tomar teu corpo, com força

a roubar teus lábios
sorvê-los.

2 comentários:

  1. Olá! Ziemssem deve ter ficado vermelho ao escrever esse texto. Introspectivo, um pouco doído. Poesia. Obrigada pela visita, há muito tempo não acessava os blogs, estou tentando responder a todos agora. Abraço!

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  2. e forte e tenso.
    gostei bem.

    ah, só não gosto do telemovel e do "fica cá".
    rs

    beijo, saudade

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