segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Eu voltava para a casa, através dos campos. Estávamos precisamente no meado do verão. Fizera-se a limpeza dos pastos, e os camponeses preparavam-se para ceifar o centeio.
Nessa época do ano, há uma variedade maravilhosa de flores: trifólios felpudos e aromáticos, vermelhos, brancos, cor de rosa; margaridas insolentes, malmequeres brancos, jeitosos, de pólen amarelo vivo, com o seu fétido picante, de podridão; a colza amarela, recendendo a mel; campânulas brancas e roxas, altas, semelhando tulipas; ervilhas-de-cheiro; escabiosas ordeiras, flavas, vermelhas, rosas e lilases; a tanchagem de penugem rósea esmaecida e um perfume agradável, quase imperceptível; as centáureas de um azul intenso ao sol, quando desabrocham, e cerúleas, com tons avermelhados, ao anoitecer, quando se vão fanando; e as delicadas flores da cuscuta, que recendem a amêndoa e têm vida muito breve.
Liev Tolstói, Khadji-Murát. Tradução Boris Schnaiderman, Cosacnaify, p. 21.

Trifólio

Margarida

Malmequer

Colza

Campânula

Escabiosa

Flava (Feno-de-cheiro)

Centáurea

Cerúlea

Cuscuta

Ervilha de cheiro

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Não gosto de revistas eletrônicas

Não de todas elas, é evidente. Mas especialmente de um tipo que tenta imitar as revistas em papel, até com um irritante barulho quando se clica para virar a página. Normalmente elas não têm problemas de conteúdo. Até saudei o surgimento de uma há pouco menos de um ano. Tratava de esportes e poderia ser baixada em formato PDF aos mesmo tempo em que convivia com essa versão que tem os irritantes barulhos de página.

Mas o que irrita ainda mais é a cópia de um formato ultrapassado, que é as da revistas em papel, no ecrã, tela, do computador. Isso é uma estupidez sem tamanho. Quando estou no computador, quero poder copiar o texto, citá-lo, selecioná-lo, mandar pelo comunicador, etc. Portanto, o melhor meio de exibir o texto para o usuário será numa interface desenvolvida em html.

Não, mas essa gente costuma ser demasiado imbecil. Faz a revista numa plataforma tosca, bonitinha porque antiquada ou, no linguajar tacanho deles, vintage. Ora merda, o público não quer saber de coisas bonitinhas, quer coisas que funcionem.

Não, essa gente coloca a revista em formato flash, eu não posso copiar, sequer selecionar um texto. E se me dão a opção de baixar o texto, será naquela formato estúpido chamado pdf, pesado e bem pouco usável, se bem que já é um avanço sobre o flash.

Mas eu desisto antes e recomendo que façam o mesmo. Boicotem gente estúpida na internet. A estupidez deles limitam sua experiência como usuário. Esse tipo de gente castradora não vale o ar que respira.

Não gosto

Da expressão coisa de pele que quer indicar proximidade, intimidade, traquejo com algo. Lugar comum tosco, e que sempre me traz à mente a noção de que para ser íntimo de algo, tenho que ter o contato carnal, pele à pele. Parvoíce em grande estilo: um tipo paga pelos serviços de uma prostituta e teria essa coisa de pele? Expressão ao gosto de jornalistas, espécie de gente a quem foi ensinado comunicar, mas nunca a eles ensinaram o que comunicar.

Aliás, é um espetáculo cômico quando alguém me diz que fez comunicação social. Fico encantado, porque ele teve de fazer um curso para fazer o que as pessoas fazem o tempo todo pelo menos desde os dois anos de idade, que é a comunicação, que só pode ser social pois sempre é direcionada ao outro.

Não gosto, também, de pessoas que usam termos deslocados de seu contexto de significação. Não que eu seja um tipo demasiado reflexivo, mas é que a falta de reflexividade, a falta de cuidado, de critério numa dada comunicação me é completamente desgastante.

E, engraçado, normalmente ela é feita por esses tipos intelectualmente nanicos que dizem ter feito a chamada comunicação social. A comicidade é garantida. O tipo vai e diz que está a ofender a cidade. Hã? A palavra não cabe.

Não se ofende uma cidade ou qualquer outra organização política ou geográfica, como um País ou Estado, se bem que, a depender de certas políticas internacionais, os países possam se tornar sensíveis via serviço diplomático e barrar a entrada de algum crítico. Ó, achamos a palavra adequada! Eu não posso ofender uma cidade, porque afinal de contas, a palavra não cabe: a cidade não tem uma honra subjetiva, não tem uma personalidade, não irá se melindrar. No entanto, posso criticá-la, apontar seus defeitos, quaisquer eles que sejam, o que mormente é feito de maneira objetiva e, possivelmente, não preconceituosa.

Arre, essa gente sem modos. Erros de tradução, quer dizer, tradução criativa ou mesmo preguiçosa também me aborrecem deveras.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

O que participa ao gato

Em poucos minutos de forte chuva de verão a casa, nos fundos, ao fim de um corredor de cerca de trinta metros, abaixo mais de um metro e meio do nível da rua, alagava rapidamente. A rua estava tal uma corredeira, embora sem alagar porque seguia em leve declive, o qual se acentuava quanto mais se seguia adiante, até terminar numa baixada alagadiça. Os carros estacionados na rua faziam a água quebrar e avançar sobre as guias, daí para as calçadas e, por fim, para os quintais. O portão de entrada da casa, antecedido por alguns degraus ascendentes, converteu-se numa queda d’água, cujo caudal era deveras maior do que a casa podia beber pelos esgotos. Com a enchente a invadir-lha a casa, a mulher, impotente, se pôs a gritar; os filhos acudiram: tiraram o gradeado do encanamento na esperança de aumentar o escoamento sem se importarem se as escórias trazidas pela água entupir-lhe-iam os canos; ela, porém, continuava a represar; um dos filhos foi ao portão e pôs obstáculos ao avanço da corredeira. Surtiu efeito de pronto. O estrago estava feito, entretanto. A casa estava imersa por uma camada d’água que batia na metade das canelas. Todos os móveis molhados; igualmente pertences vários nas partes baixas das cômodas, guarda-roupas, sapateira; a despensa ficou repleta daquele fluido infecto castanho escuro repleto de baratas a boiar; os móveis, provavelmente, estariam todos perdidos.

E nessa chuva toda, com uma expressão preocupante, estava o gato a tocaiar o que se passava. Seu olhar demonstrava inquietação, o que evidenciava a percepção daquela tragédia comezinha, embora ele mostrasse normalmente uma expressão de afetada indiferença, prova do seu temperamento independente, caracteristicamente felino, poder-se-ia dizer. Em um dado momento, porém, aquela expressão alterou-se, ficou algo desesperada, com os olhos arregalados e pupilas imensamente dilatadas, pondo-se a miar estridentemente, como se sentisse dor, como se alguém lhe pisasse o rabo; mas não, ele miava e olhava para a mulher, e olhava em direção a um ponto qualquer, o qual a mulher demorou a localizar, afinal a situação era toda difícil, toda desesperadora e demover-se das próprias mazelas para se aperceber dos anseios dum gato, àquela hora, não seria algo imediato.

O gato estava a miar e movimentar-se, desceu à cama, no quarto já tomado pela água castanho-negra. Olhava em direção à porta, remexendo-se, retesando a musculatura, girando, miando, crispando-se, olhava para mulher, miava, olhava para objeto de atenção e novamente para mulher, atos repetidos várias vezes. Ela, depois do filho ter dito que a água já não mais invadia o quintal, atinou ao felpudo, e se deu conta de que ele olhava para sua vasilha de ração à deriva na água turva. Logo esboçou um sorriso ao inferir que o gato percebia o desastre, que o seu comedouro a flutuar lhe participava também como perda, pois não lhe era possível vencer a água para tê-lo.

O gato tornou mais leve a sua angústia; a água estava vencida, aparentava já ceder, com a casa dando conta do fluir; o gato sossegou depois de posta a vasilha sobre a cômoda, enxugada de qualquer jeito; o felpudo não buscou a ração, deu-se por satisfeito, aquietou-se na cama, sentado sobre as patas traseiras, contemplando derredor com ares atentos. Ela o contemplou, num curto instante, um minuto, no máximo: realizava o que antes alguém havia dito acerca dos gatos, enfim, e que agora via, de que eles seriam mentalmente próximos das pessoas, o que conferiria, talvez, temperamento similar; talvez isso fosse bobagem, não importava. Observava o gato com sua cabeça desproporcionalmente pequena em relação ao corpo, pois ele era grande, maciço, esbelto e musculado mesmo castrado; ativo e algo brigador, embora não vivesse mais sujo e cheio de cicatrizes; a pelagem brilhava, as patas eram intensamente brancas, como se usasse meias; branco o qual se espalhava pela barriga, peito e boca; pois o dorso, até o focinho e a parte superior dos membros, era malhado de preto sobre uma pelagem cinza escura com o subpelo amarelo pálido. Sob a luz o pelo brilhava bonitamente. Lindo, ela pensava.

Instante terminado. Volta à faina: retirar a água, separar o que por ela não foi arruinado, limpar a escória trazida pela chuva. A labuta seguiu a noite toda.



sábado, 12 de fevereiro de 2011

A beber?

— Como estás, António?
— Nas tintas, Fernando.
— Que tens aí?
— Cachaça, o que mais haveria de ser?
— Não sejas rude, meu velho, oras, não te fiz nada. Apenas queria saber como estavas a passar. Bem, estás a beber já a essa hora?
— Não, Fernando, se me ponho a beber a esta hora é sinal que não estou apenas a beber, e sim que estou a me embebedar, não o percebes?
— Ora, mas por quê? A essa hora?
— Ora, diabo, porque me apeteceu! Se continuares a ser aborrecedor com este interrogatório, peço-te que saia, que deixe-me em paz, que suma daqui. Se, acaso, preferires calar o teu focinho, pegue um copo.
— Sim, é razoável, prefiro o copo.
— Sim, pegue-o e cesse com isto.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Used to be



you are coming home
are you still alone
are you not the same as you used to be
as the sun grows high
and you serve your time
does each day just feel like another lie
now you know
is it just for show
just a foolish game that you hide behind
dont forget the nights
when it all felt right
are you not the same as you used to be
used to be

in a endless night
would you feel the fright
of the age that wasn't
could never be
so we hold it close
when we feel the most
like a love that we could not leave behind
we turn the wheel
to which way we feel
till our thoughts lift
i can not find you there
don't forget the nights when it all felt right
are you not the same as you used to be
used to be

even if i try so hard
would we still be coming to an end
even if we spoke the same words
would we still return as friends
even if its simple from the start
we will give the pieces of the heart
and when there is nothing left to pretend
we will know its coming to an end

even if we try so hard
we will give pieces of our heart
its always good to see you again
even if its coming to an end