quinta-feira, 24 de março de 2011

O velho talvez estivesse recordando como, havia quarenta e seis anos, sentara-se junto ao leito de morte da primeira esposa. Talvez comparasse o desespero que naquela ocasião se apossara dele à melancolia pensativa com que observava agora, envelhecido, o rosto transformado, inexpressivo e horrivelmente indiferente da velha senhora, dessa mulher que nunca lhe proporcionara grande felicidade, nem grande dor, mas que vivera ao seu lado durante muitos, longos anos com tato e prudência e que, naquele momento, se ia embora, vagarosamente.
Thomas Mann, Os Buddenbrook. Trad. Herbert Caro, Círculo do Livro, São Paulo, 1981, p. 62-3.

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