Como fora que esses dois tinha chegado a casar-se, e como se dava um com o outro? A cidade lembrava-se daquela decisão brusca que com que procedera, havia dezoito anos, Thomas Buddenbrook, que então tinha trinta. "Esta ou nenhuma", dissera ele. Com Gerda, as coisas deviam ter sido parecidas: até a idade de vinte e sete anos, em Amsterdam, rejeitara todas as propostas, enquanto, imediatamente, aceitara este pretendente. Logo, um casamento de amor, era o que diziam. Embora de má vontade, tinham de admitir que os trezentos mil marcos de Gerda, nessa aliança, haviam apenas desempenhado papel secundário. Mas pelo outro lado percebera-se, desde o começo, muito pouco amor entre os dois, ou pelo menos aquilo que se entendia por amor. Desde o começo verificara-se nas suas relações apenas cortesia, uma cortesia absolutamente singular entre esposos, correta e respeitosa, a qual, coisa incompreensível, não se baseava em distância e estranheza interna, mas sim em recíproco conhecimento e intimidade, de caráter muito singular, mudo e profundo. Os anos nada haviam mudado.
Thomas Mann, Os Buddenbrook. Trad. Herbert Caro, Círculo do Livro, São Paulo, 1981, p. 564-5.
quinta-feira, 24 de março de 2011
por Joachim Ziemssen
às
16:56
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